segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Espelho

Aquele menino que dançou contigo,
eras tú mesmo, não lembras??
tinha o teu rosto perdido
por entre as flores que não colhestes
aquele menino, reparastes?
tinha mãos iguais as tuas
e na multidão dos dedos guardava
todos desejos interrompidos e mudos
Aquele menino tinha na pele o
o mesmo perfume que a tua
quando abraçavas tuas mulheres
completamemte nuas...
Aquele menino que te tirou pra
 dançar, percebeste nele o teu agora??
tinha um nao sei que de poeta nos olhos
na alma, todo um véu de tristeza, nos
passos, toda a pressa dos aflitos e
no coração a espera perfeita
do amor entre uma e outra safra
entre o passado e o futuro.

A vida?? Passou por aqui agora no seu patinete de vento...

Desmaio de amor, é maio!
Já não sou mais abril
Março já se faz distante
Junho vai chegando ( ousando...)
com seu arco íris de frio
Em JULHO, ENVELHEÇO!!
um ano a mais, mais um ano, quantos?
me esqueço...
já agosto me entristeço
sou tragada pelo vento
primavera desabrocha
setembro , se eu bem me lembro
outubro , te pego em meu colo
não sei bem porque
(pesas mais um ano de ausencia em mim)
na angústia de novembro, desfilam
sorrisos dos mortos queridos
já dezembro, choro denso
e te espero janeiro
e te ver talvez num dia de folia
entre março e fevereiro
nesse olhar escurecido de fantasias
onde acendo em ti ,a cidade por um dia
no confete solitário e ínfimo que brilhou...
no suor escondido do meu peito
tão quarta feira ainda em mim...


quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

TODA CRIANÇA PRECISA...

De uma caixinha velha, com desenho de araucária ainda cheirando floresta...de um exército de botões com uniforme de dias passados, umas tampinhas de refrigerante amassadas, uma bacia grande de alumínio onde se poe a alma e se espelha num  céu turqueza de doer até pensamento de tao lindo!!
Mas toda criança precisa que lhe dêem um quintal de presente ,tem de ser bem grandão ,com um ninho de pássaros entoando o entardecer ,com um resto de dia se escondendo em pilhas de madeiras e de desenhos de barquinhos em giz de cera , pra quando elas quiserem levantar âncora desse mundo tão besta de gente grande.
 
 



Arrebentação

 




A três mil e seiscentos degraus, no farol mais alto estava eu, perto de Deus, a falar com o vento, ventríloquo perfeito que carrega o boneco do tempo nos joelhos.

Como passas pelas ruas com tua carruagem de prata, levando as tardes desmaiadas e trazendo a noite no colo?

Eu estou aqui, onde um dia alguém chamou de longe, só pra contar tua estória. Sei que enxergas de perto o olhar crucificado das estrelas e derrubas muros de pétalas. Mas poderias ensinar-me o assovio que aprendestes com as venezianas?

Aqui do mar, quando bebes, eu vejo espuma em tua boca bem nas bordas da praia. Vejo teus olhos embriagados e transbordados pelo sóis que não vieram.

Se não fosse por ti, eu não arriscaria meu veleiro procurando agosto, melancólico mês em que nasceste filho primogênito de uma brisa passageira...

Eu quero que me contes de tuas andanças desde os moinhos até dos meus versos que espalhastes nos calabouços. Desde que entravas nos quartos alheios engravidando as cortinas, até quando enlaçavas as chamas das velas nas procissões, fazendo-as dançar as mesmas canções sensuais dos salões...

Mas e o amor, que é pra ti? Será esse vendaval que ainda está por vir ou o teu último sopro que morrerá ou avivará a chama dentro de mim? Por que não vais lentamente com toda ternura fazer o parto, o crescimento e a morte de um fruto? E não sei porque corres tanto se tens o dom de pressentir a chuva.

Ah, eu te vejo por inteiro sim! Quando mordes e mastigas a ausência de tudo, e pelas frestas te espio com os lábios roxos de frio! Sei que o redemoinho da água é o reflexo do teu rosto e quando adormeces tens que afastar os lilases dos crepúsculos. Eu te vejo tão perto que sinto até teu beijo morno de outono em minhas mãos.

Se eu soubesse chamar Éolo, teu Deus, filho de Júpiter e Menalipo, eu pediria para ajudá-lo nesse desatino em que vais sem direção.

Ah, se eu pudesse alcançá-lo! Mas teus olhos se atiraram nos abismos dos meus fazendo-te em pedaços num frágil suspiro. Ninguém acreditará que eu o tive enchendo meus olhos de ciscos nesse teu jeito que eu gosto tanto de menino travesso cutucando os temporais com os dedos.

 

Duas de mim

Em mil faces e mil ouvidos me divido, nessa vida que me atira longe,tenho ouvido no lugar dos olhos ,tenho dentes no pescoço.
Sou o louco que prendeu o vento na camisa de força temporal. Sou o lúcido menino perdido na infancia de outro alguém.Sofro com a descontinuidade do meu corpo, como pedaços de espelho
com bifes de cérebro no almoço.
Enxergo o mundo de um jeito ou de outro, vejo lustre de gravata ,primavera brotando no teto,corpo faltando alma, alma faltando gesto ,gesto faltando abraço,abraço faltando perto...
Carrego o Brasil num brinquinho ,mas os estados sofridos pesam!!
Faço caretas enormes e assusto as criancinhas nas portas das escolas primárias.
Vem um menino me dando uma espiga e eu a come- la com o ouvido.
Nada visto ,perdi meu corpo numa torre giratória, meu coração , num moinho de vento ,meus pés na amnésia do tempo.
Escancaro a boca no silencio ou num bocejo de sono, mas as vezes tenho os olhos chuvosos e ninguém percebe isso...
Mas o que eu gosto mesmo é quando já se faz escuridão lá fora e sem que ninguém me veja ,transbordo- me por todas as bocas e por todos os olhos até embriagar- me com o excesso de mim por completo, só pra ver a lua triste como eu, cambaleando e vomitando estrelas atrás de mim.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

EU; AQUI...

São duas e dez , já outro dia se esconde nas pernas da ventania escancarada por aí . O ano novo , não tem vergonha de já correr atrás das horas como um bebado descontrolado de olhos vermelhos e cansados feito os entardeceres, que loucos, se abraçam frenéticamente nos galhos das árvores pra não se perderem...
Você já pensou no que é felicidade pra hoje? pra agora?
Então; pra mim hoje talvez seja lençóis no varal dançando no balé da brisa ,ou o perfume que eu sinto vindo da ruinha estreita onde uma flor num velho jardim, se faz azul só porque eu olho pra ela.
Ou talvez seja o amor que eu fugi e espero ainda ,pois no fugir sempre mora a espera...
Ou eu espere a explosão de fogos vindo de algum quintal longinquo onde ainda haja crianças que sujam as mãos de terra e abram caixinhas surpresa com anéis de plásticorubis!!!  Você, que fica aí só reclamando, nem sempre o corpo é macio ,às vezes é mármore ,às vezes pedra ,mas pedra também tem memória!! Pode perceber ,quando as ondas vão e vêm e se perdem são as pedras que as esperam e lhes mostram como voltar para a praia.
Sabe, vai se feliz!! se atraca em aventuras ,pisa na enxurrada ,pesca a vida com iscas de papelão, pensa por um segundo, um apenas que você é um soldadinho de chumbo dançando com uma bailarina uma ciranda de roda!!
Vai!! arrisca falar de amor ,não dói nada!! PREPARA A BOCA ,SABE QUANTOS BEIJOS CABEM NELA E QUANTOS ABRAÇOS SUA ALMA DECORA DE CONTORNOS?? SÃO INFINITOS!!
Por isso, deixa que a sombra carregue o peso dos dias, deixe que os poemas enxuguem sua tristeza ,põe uma música alegre e aprenda passos de brinquedo e desça ladeira abaixo ,onde você nunca ousou descer, se surpreenda com o que encontrar ,sabe o que pode estar lá??Humm... o outubro que você perdeu, a flor que não foi gerada , o navio que não veio ,parte sua e dele que se desencontraram, ,o aceno da sua mãe lhe chamando pra jantar, as sílabas que você nunca falou, o giranio vermelho que espiava na janela quando você voltava da escola,sua vida inteira pode estar lá!! então vai!!! pega o bonde que não passa mais há muito tempo, hoje eu garanto ,ele vai passar ,mesmo que não haja trilhos ele virá ,porque temos caminhos na lembrança que nunca foram pisados e os sabemos de cor, veste seu vestido bordado de chuva ,joga todo esse saco de presentes supérfluos fora ,voce não precisa de nada disso.
Corre!! o ano novo tá fazendo a curva na esquina ,você vai alcançá-lo!!ele está a pé e você está pedalando nos seus sonhos!!!