sexta-feira, 3 de setembro de 2010

MUITO ALÉM DA MINHA TRISTEZA...

 
 Sabe aqueles dias que nos sao indiferentes e a sombra da tarde deita ao lado da gente e não quer mais sair? sabe também quando o destino das coisas caem em nossas mãos como pedras q sabemos serem preciosas mesmo sem precisar lapidar?
Então, numa tarde assim que tudo aconteceu. Sentia- me triste, fechada no fundo da minha gaveta mais desarrumada de poemas inconclusos implorando por mais alguma palavra,nem que fosse por uma lua só pela metade dando a impressão de continuidade....
Fui indo e me veio a imagem da criança que eu havia sido, quando tentava fugir de casa levando só uma boneca vestida de homem( pq eu achava que mulheres poderiam ser violentadas...),e era frágil a minha boneca; levava também um ou dois anéizinhos de plástico, que vinham naquelas caixinhas surpresa; mais um tico de amores fechado em mim mesma e os sonhos sendo construídos não sabia bem onde.
Sentei- me no banco do parque  naquela hora tênue onde um fiapo de teia divide o dia da noite. A hora que pessoas se recolhem em seus quartos desarrumados e no menstruar desatado e avermelhado do crepúsculo, se deitam uns por cima dos outros como se fossem um só corpo a fabricarem frenéticamente mais pessoas num ritmo acelerado de sentimentos impuros,.e depois se separam abominávelmente como se um já não fosse o outro depois do que chamaram de amor ?(eka!!)
Num de repente, ele me chegou assim como chegam anjos pendurados em ave-marias às seis e pouco...
Magro!! tinha o corpo fundo e os olhos gastos, perguntou se eu queria engraxar os sapatos,e eu lhe disse: são de plástico!! posso lavá- los respondeu- me . deixei que os lavasse na torneira pública  do parque(pra mim era pública; pra ele tão de casa...)
Não lhe dei o sificiente para que completasse de vida o estômago de ruas apagadas. Conversamos não sei o quanto só sei que foi muito, muito; até prendi os dedos do tempo nas horas pesadas da vidraça para que tudo permanecesse no agora daquele momento. Mostrou- me os braços marcados; brincadeira de cigarro! cada vez que volto pra casa, ganho uma de meu pai, já nem dói mais!!Pareciam estrelas mortas tatuadas num céu que não teria mais azul... Tinha 13, faria dali dois dias. perguntei- lhe o que gostaria de ganhar ele disse: Ah, se eu pudesse moço, mas é tão difícil! E eu; diga aí vai, quem sabe eu possa...,Ele olhou- me com aquele jeito de moleque que só os anjos têm e a escuridão que eram suas mãos pela graxa que engrenava seus dias e disse:
Queria um kit de pasta de dente!! E eu; é?
É, então ,um daqueles que vêm aquele rolinho branco pra faxinar a boca, uma escova "possante" (encheu os olhos de esperança ao falar isso) aquela que tem vassoura para a lingua sabe? (sorri, e fui quase me morrendo por dentro...) e uma pasta grandona de dente daquela que chama sorriso, sabe? naquele instante abandonei- me pra sempre dentro de mim. Eu que estava lá, reclamando dos meus dias, com uma blusa de lã importada e uma boina de marca exclusiva  e ele só de pele  envelhecida vestido...
Sentia- me um monte de merda arrotando ainda o filé de salmão com purê de hipocrisia que tinha comido no almoço.
Atravessamos a avenida naquela hora em que o peito dele acelerava e  tão fraca me senti naquele instante. Ele leu a marca: SORRISO, mas não conseguiu desenhar nos lábios tão difícil contorno que não aprendera. Já era tarde, do alto da minha janela  um pássaro arriscava romper a fronteira de um fio para o outro.. Olhei para o parque, com o vento forte, duas árvores difrentes se abraçavam....

KALÍOPPE


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