Ah, meu amor! na solidão do meu quarto é que em ti sacio a sede, tuas lembranças me arranham por inteiro, as estátuas me olham como a dizer:
Há vida lá fora!
As pessoas meu amor ,nao tem mais rostos ,os olhares se apagaram , ouve alguma coisa que as desfiguraram, arrancaram o coração do peito cheio de desejos ,cheio de perdões e não o querem mais...
Passam por nós com monstros nos olhos ,desprezo nas mãos.
Ouve meu amor; ouve!! as lembranças que guardamos gritam atrás das portas, estouram nossos ouvidos, querem - nos outra vez!! Foge meu amor, foge!! sai pela porta dos fundos, pega um tanto de amor verdadeiro que juntei num canto e leva caso precisares.
Ah, como eu lembro bem os passos de dança que me ensinaste...Percebes a mão do ontem acariciando teus cabelos?? Então vem!! vem pelo chão bebado arrastando cadeiras, laça teus braços nos meus, eu garanto que o meu abraço será perfeito!!
Onde estamos afinal? já vi essa paisagem andando pelas noites que não nos tivemos...
Era escuro ,eu lembro, eu tinha o outono todo nas mãos e o infinito nos cabelos...
Ah meu amor, a vida nos chama, lá longe vem vindo a árvore que se perdeu e não viu a primavera, vem vindo a semente com o fruto no colo chorando o inverno, marchando pelos campos vem vindo o amor desfigurado e sedento! Ah meu amor, abre tua mão de trigo,e acaricia mulheres de ventres rasgados, homens sem crença, crianças sem alicerce de carnes...
Ah, te falarei mais uma vez no ouvido ,meu amor; corta as algemas com a força de uma pétala, é preciso que tenhas pressa pra salvar os sonhos despedaçados pelos caminhos, desviar o ódio com toda euforia vindo ,vindo...
Olha !! os pássaros nos espreitam nos alpendres, quietos, encolhidos. Não te dispas frente á janela, porque o tempo covardemente roubará tua juventude e se te ver assim tao lindo, tao cheio de brilho nos olhos...
Ah meu amor ,vai embora antes que seja tarde, e pega- me quando passares pela caverna da solidão, eu lá estarei dificilmente, mas estarei; antes que meu olhar se apague e a dor faminta devore a minha alma, antes que eu me busque ainda criança e esqueça dos monges pulando os muros.
Antes que eu não mais me lembre do primeiro voo de um pássaro.
Vem logo , vem! pra que eu te alcance no silêncio dessa hora e então nos esconderemos por dentro dos cabelos, no peito do sol, no porão da terra e seremos um só gerando no ventre a concepção de uma rosa tingida de amanhecer.
KALÍOPPE
doces palavras nos levanto ao raciocinio do tempo...
ResponderExcluirLinda poesia, Gata...
ResponderExcluirSei bem do tantão de sensibilidade que guardam esses lindos olhos azuis.
Beijos da Clau Mineira.